Além da empena cega : a experiência estética da cidade como subversão do olhar capitalista sobre Águas Claras - DF

Abstract

Nesta dissertação, tem-se como protagonista a cidade de Águas Claras, RA (Região Administrativa) do Distrito Federal que teve sua construção iniciada no ano de 1992 em meio ao fortalecimento da crítica ao modelo de Cidade Modernista executado em Brasília. A cidade-satélite (como popularmente se denominam as RAs), contudo, vendeu-se como protótipo e se tornou exemplo de como o capital pode criar espaços – transformando-os em mercadoria – conforme suas necessidades e como forma de controle social. Como resultado, tem-se uma cidade alienada da dinâmica centro-periferia que agrega a si problemáticas nocivas do pensamento cosmopolita. Nesse sentido, pergunto-me de que forma a experiência estética que se desenha por meio do caminhar pela cidade pode transformar o olhar restrito pelos signos do pensamento capitalista sobre Águas Claras. Por isso, parto da compreensão do espaço a partir de Milton Santos e Michel de Certeau de forma a contemplar a importância do caminhar para a significação e a observação crítica do espaço. Assim, com inspiração na literatura de Clarice Lispector e Virginia Woolf, busco a construção de uma cartografia ensaística e investigativa de sua paisagem urbana através de passeios contemplativos durante os quais flutuo à deriva por pontos de interesse que evoquem contradições, artificialidades e espontaneidades no espaço. Tendo como referências David Harvey, Georg Simmel e Yann Moulier-Boutang e minhas observações da cidade, comento as consequências automatizantes da ação do capital sobre o espaço com o objetivo de compreender seu efeito no cotidiano e, consequentemente, sobre o hábito, discutido a partir do desenho de um caminho para sua subversão pela semiótica em Charles Sanders Peirce, Iuri Lotman e seus comentadores. Esta pesquisa, finalmente, serve como estímulo à imaginção e ao olhar poético sobre a cidade para o explorar de alternativas socioespaciais; suplemento criativo para o cultivo de possibilidades e para a emancipação intelectual visando o agenciamento de transformações sobre o espaço e o questionamento de crenças alienantes.