Psicologia escolar e interculturalismo: atuação institucional na Educação Básica

Abstract

O Brasil é um país de dimensão continental marcado por uma pluralidade racial, étnica, religiosa, cultural que materializa o interculturalismo como fenômeno que retrata a diversidade em uma perspectiva ampla e decolonial que, além do reconhecimento de diversos grupos, promove o desenvolvimento dos sujeitos a partir da participação, do protagonismo, da interlocução, da troca de saberes e da aprendizagem. A atual configuração migratória, com o aumento de imigrantes e refugiados, amplia esse cenário composto por negros, quilombolas, indígenas, brancos. Acreditando que os espaços educativos sejam potenciais contextos de desenvolvimento da consciência e de processos psicológicos mais complexos para todos os envolvidos, defendeu-se a tese de que a Psicologia Escolar deve desenvolver ações intencionais em cenários educacionais de interculturalismo. Acreditou-se que, diante desse contexto histórico, cultural, político e social que foi invisibilizado e da escassez de orientações para a prática psicológica em instituições de ensino com vivências culturais, poucas profissionais desenvolvem ações institucionais, voltadas a essa temática de forma intencional. Com base nessa defesa, esta pesquisa objetivou investigar a atuação da Psicologia Escolar em cenários de interculturalismo presentes na Educação Básica no Distrito Federal (DF). Os aportes teóricos foram a Psicologia Crítica, Psicologia Escolar Crítica e Psicologia histórico-cultural. A metodologia qualitativa guiou a investigação, que teve como participantes dez psicólogas escolares das Equipes Especializadas de Apoio à Aprendizagem da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (EEAA/SEEDF), que atuavam em escolas da Educação Básica da SEEDF com cenários de interculturalismo. As informações foram analisadas qualitativamente à luz da Psicologia histórico-cultural, considerando a análise de processos, a partir da construção de eixos de análise e da produção de sentidos e significados. Os resultados indicaram uma diversidade nos cenários de pesquisa composta por brancos, negros, indígenas, imigrantes, refugiados. As análises das entrevistas anunciaram três zonas de sentido (ZS): Interculturalismo como temática inovadora na interlocução com a Psicologia Escolar (ZS1); Fundamentação teórica para atuação em Psicologia Escolar (ZS2); Práticas da Psicologia Escolar em cenários de interculturalismo (ZS3). A atuação intencional da pesquisadora no processo de investigação de uma temática inovadora e pouco debatida pela área mobilizou afetos, partilha de conhecimentos e interlocuções junto às participantes, suscitando a conscientização da relevância da temática do interculturalismo e prospectando ações no âmbito da Psicologia Escolar. Observou-se uma compreensão reduzida em relação ao interculturalismo, muitas vezes atrelada a grupos específicos. Identificaram-se ações, baseadas na proposta de atuação institucional, voltadas ao cenário de interculturalismo; porém, muitas vezes, não havia uma intencionalidade nas práticas direcionadas ao fenômeno; algumas, ainda eram de cunho individualizante e não institucional, ou direcionada a grupos específicos. Os resultados indicaram, ainda, necessidade de abordagem da temática em contextos de formação inicial e continuada. Concluiu-se que é necessária a construção de saberes e práticas que favoreçam, além do multiculturalismo já existente, um interculturalismo nos ambientes educacionais. Como contribuição dessa investigação, foi desenvolvida uma proposta de atuação institucional para psicólogas escolares, com foco em cenários de interculturalismo.