O ato educativo no contexto hospitalar: as percepções do profissional de saúde

Abstract

Esta pesquisa qualitativa investigou, à luz do arcabouço teórico da psicanálise sobre as ideias freudianas a respeito do tratamento psicanalítico gratuito e do histórico de construção do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, que partem do princípio de defesa da saúde e da educação como direito público fundamental, assim como a garantia de que as pessoas tenham acesso ao tratamento humanizado. Sendo assim, este estudo explorou as convergências e divergências entre essas visões, com ênfase no que significa, para o acesso à educação nas unidades pediátricas do Distrito Federal, compreendendo como as concepções de Freud se relacionam com as políticas contemporâneas que visam promover o bem-estar da população e o desenvolvimento dos sistemas de saúde e de educação mais inclusivos e acessíveis. A investigação centrou-se no objetivo geral de compreender as nas percepções de profissionais da saúde acerca do ato educativo e de suas (im)possíveis contribuições no contexto hospitalar. O estudo ocorreu no período entre 01 de outubro de 2024 a 19 de dezembro de 2024. Para tanto, o estudo foi pontuado na abordagem qualitativa, utilizados como procedimentos metodológicos entrevistas semiestruturadas, análise documental e observações participantes, com registros em diário de campo. A população participante foi identificada por conveniência, participaram os profissionais de saúde que atuam no referido hospital. A análise dos dados foi realizada integrando os achados empíricos ao arcabouço teórico adotado, a observação participante com registro no diário de campo, a análise documental e a entrevista semiestruturada, culminando na identificação de três eixos temáticos: Educação Hospitalar como Direito Público, O Sujeito Escolar Hospitalizado e O Modelo Biomédico em Saúde. Esses eixos permitiram elucidar possíveis repercussões e significantes do ato educativo no ambiente hospitalar. A análise foi orientada pelo percurso metodológico de Bardin e o referencial psicanalítico no campo da educação. Articulou-se a teoria e os dados para compreender como a presença do Programa Classe Hospitalar ressignifica a experiência do adoecimento infantil, reafirmando a identidade da criança como estudante e subvertendo a lógica passiva atribuída ao significante “paciente”. Participaram oito profissionais, com idade entre 40 e 53 anos, com mais de três anos de experiência. Com relação aos eixos temáticos: o primeiro, Educação Hospitalar como Direito Público, abordou os aspectos relacionados ao reconhecimento da educação como um direito fundamental e refletiu sobre os desafios enfrentados atualmente para oferta do Programa Classe Hospitalar no Distrito Federal; segundo, o Sujeito Escolar Hospitalizado, conectou as ideias relacionadas a escola e à criança hospitalizada, destacou como o trabalho pedagógico realizado pelo Programa Classe Hospitalar não apenas promove o avanço na aprendizagem, mas também proporciona à criança uma experiência escolar inserida no contexto do adoecimento e o reconhecimento pela equipe de saúde das questões subjetivas que envolvem a internação com crianças; último eixo, identificou o Modelo Biomédico em Saúde a predominância do discurso racional na área da saúde influencia as dificuldades enfrentadas na implementação e no desenvolvimento das atividades escolares no ambiente hospitalar. Conclui-se que o referido programa não apenas assegura o direito à educação no hospital, mas também preserva dimensões subjetivas essenciais, impactando as práticas das equipes de saúde e promovendo uma abordagem pediátrica mais integral e humanizada, sensível às necessidades da criança hospitalizada. Reforça-se que a partir das reflexões apresentadas, espera-se potencializar o debate sobre o programa classe hospitalar, evidenciando a importância de ultrapassar perspectivas unilaterais e abrir espaço para olhares interdisciplinares nos campos da saúde e da educação, possibilitando maior interlocução entre essas áreas, vislumbrando possíveis ações conjuntas que contribuam para o aprimoramento, expansão e fortalecimento do Programa Classe Hospitalar. Evidenciou-se também que a presença do Programa Classe Hospitalar no ambiente hospitalar não apenas favoreceu a continuidade do processo educacional das crianças internadas, mas também provocou deslocamentos significativos na forma como a equipe de saúde se relaciona com a criança hospitalizada. A inserção de práticas pedagógicas no espaço hospitalar atuou como elemento catalisador de reflexões e questionamentos sobre os limites do modelo biomédico tradicional, historicamente dominante nesse contexto.