Narrativas das crianças da Educação Infantil sobre o faz de conta

Abstract

A imaginação vivenciada através do faz de conta possui um papel central para o desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida, especialmente durante o ciclo da Educação Infantil. Embora existam valiosas contribuições de abordagens teóricas clássicas e de autores contemporâneos sobre esta temática, ainda é incipiente o número de pesquisas em que a perspectiva das crianças sobre o próprio processo do brincar atrelado ao desenvolvimento da imaginação, seja considerado. Muito já se pesquisou sobre o papel do brincar na Educação Infantil, porém, ainda pouco se escutou das crianças sobre como vivenciam e compreendem este processo. Assim, este estudo objetivou analisar as narrativas das crianças de 3 e 4 anos de idade acerca do processo de imaginar nas situações de brincadeiras em contextos de relações triádicas na Educação Infantil. A pesquisa teve caráter qualitativo e foi embasada na perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural e Teoria Pragmática do Objeto, com análise microgenética. O estudo foi realizado em uma Instituição Educacional Parceira da secretaria de estado de Educação do Distrito Federal – IEP-SEEDF que oferta Educação Infantil, tendo como participantes 15 crianças com idade entre 3 e 4 anos e a professora da turma. Como procedimentos para construção das informações foram utilizados os seguintes instrumentos: duas sessões de observações livres no contexto da rotina escolar, em que a pesquisadora fez o registro por meio do diário de campo; três encontros de observações sistemáticas em contextos de relações triádicas, registrados por meio de videogravações; um encontro de grupo focal em contexto de relações triádicas, gravado em áudio e videogravação. O percurso metodológico foi organizado a partir da consideração de informações significativas das anotações do diário de campo, das transcrições e análises de recortes significativos das videogravações das observações sistemáticas, e das videogravações e audiogravações do grupo focal com foco nas relações triádicas (criança-professora/crianças-objetos). Os resultados mostram que na perspectiva das crianças, o brincar ocorre enquanto fruição da imaginação nos mais diversos tempos e espaços da Educação Infantil, com destaque para a importância da linguagem, da mediação da professora e do acesso aos objetos cotidianos para realização de suas criações imaginárias, e que nesse processo de mediação docente cabe parceria lúdica com intencionalidade e responsividade. O desenvolvimento do brincar de faz conta evidenciou ser um processo cultural complexo, por meio do qual as crianças aprendem gradativamente a criar situações imaginárias fazendo usos simbólicos de objetos cotidianos convencionais, usos substitutos e com ausência física dos objetos, depois refazem esses graus de complexidade em narrativas simbólicas. Foram identificadas três novas categorias de construções simbólicas apoiadas pelo uso da linguagem. Na perspectiva das crianças, elas brincam de faz de conta pela necessidade de vivenciar desejos ainda não realizáveis. Acreditamos que os achados desta pesquisa podem colaborar para ampliar a compreensão dos processos envolvidos no desenvolvimento do brincar de faz conta a partir das perspectivas das crianças, e fomentar discussões envolvendo o planejamento curricular da Educação Infantil.