Argilas calcinadas e resíduos provenientes da indústria ceramista da região Oeste da Bahia : potencialidade para uso como material cimentício suplementar

Abstract

A potencialidade do uso de argila calcinada como material cimentício suplementar (MCS) decorre da disponibilidade global de matérias-primas argilosas. A calcinação desidroxila a caulinita e forma uma matriz amorfa reativa, sendo amplamente discutido que o teor de caulinita nas matérias-primas é um pré-indicador da possível reatividade pós calcinação. No Brasil, a indústria ceramista usualmente aplica um tratamento térmico entre 500 e 800 °C na massa cerâmica, composta predominantemente de argilominerais e quartzo. Os produtos sinterizados descartados nesse setor, denominados resíduo de cerâmica vermelha (RCV), apresentam, após cominuição, capacidade de reagir com cal a depender do teor de caulinita contido na argila in natura e do tratamento térmico recebido pelo material. O objetivo desta pesquisa foi avaliar, comparativamente, a potencialidade pozolânica de argilas calcinadas provenientes da matéria-prima da indústria ceramista com a de RCV sinterizado em temperaturas variadas. A metodologia consistiu na comparação de três amostras de argilas calcinadas em condições controladas, provenientes de matérias-primas de diferentes polos ceramistas, com distintos teores de caulinita, com os respectivos RCV. A caracterização foi realizada a partir de difratometria de raios-X, distribuição granulométrica, área superficial específica BET, análise térmica (TG/DTG) e espectrometria de fluorescência de raios-X (FRX). Os ensaios diretos de avaliação da atividade pozolânica foram o Chapelle modificado, Frattini e teste R³. O ensaio indireto utilizado foi o índice de desempenho (ID), além do acompanhamento da evolução da resistência à compressão até 91 dias. A reatividade foi dependente de uma combinação de fatores, como o teor de caulinita, o teor de amorfos, a área superficial específica BET, a distribuição granulométrica e a composição química. A potencialidade reativa do RCV cominuído se assemelhou àquela da respectiva argila calcinada em condições controladas, o que evidencia a potencialidade de uso do RCV como material cimentício suplementar para a produção de cimento Portland, onde os requisitos normativos são mais brandos em relação àqueles para a classificação como adição pozolânica.