Mães "na medida" : meninas, maternidades e uma Unidade de Internação Socioeducativa

Abstract

O tema privação de liberdade de meninas em cumprimento de medida socioeducativa de internação tem se desdobrado nos últimos anos em várias janelas específicas de pesquisas, sendo uma delas as maternidades em contextos socioeducativos. Ao partir do princípio que suas experiências de maternidades revelam elaborações acerca de seus papéis sociais e do contexto em que estão inseridas, o estudo sobre este grupo de adolescentes, com nítidos marcadores transversais de gênero, geração, raça e classe, tem possibilitado compreender como a medida socioeducativa pode afetar as meninas e seus filhos(as) e, em contrapartida, como esta mesma maternidade tem desenhado as ações político-institucionais do sistema socioeducativo distrital. Fruto de uma pesquisa etnográfica, a rede de envolvimento com a maternidade dentro de uma unidade de internação na capital do Brasil era predominantemente feminina – servidoras, gestoras, colegas de quarto, avós das crianças e as próprias meninas-mães – e protagonizava a transversalidade das práticas de cuidado, mas também da reprodução de desigualdades e de discursos hegemônicos que envolviam essas trajetórias maternas. Assim, tais sujeitas privadas de liberdade tendiam a colher os efeitos acerca do imbricamento entre ser mãe e socioeducanda para além dessa instituição socioeducativa, visto que lidar com as maternidades nesse contexto era como viver “na medida”. Mães “na medida” surgiu na tentativa de expressar a revelada complexidade desse campo social, a partir das discussões sobre gênero, maternidades, privação de liberdade, papéis femininos, controle social, políticas públicas e expectativas sociais.