Participação política no cotidiano escolar : possibilidades de desenvolvimento de estudantes de ensino médio

Abstract

Desde meados da década de 2010, vivemos um momento histórico e político, internacional e nacionalmente, em que ganharam forças governos de extrema direita e perspectivas conservadoras, aliados ao avanço do neoliberalismo. Esse cenário relaciona-se a uma crise do modelo hegemônico da democracia liberal, marcada por expressões de descontentamento com a política tradicional e por despolitização da sociedade, e aponta para questionamentos sobre o exercício ético-político participativo em diferentes âmbitos da vida social, inclusive na escola. A partir da psicologia materialista histórica-dialética, compreendemos a escola como importante espaço de desenvolvimento da personalidade e de uma formação para a vivência democrática. Dessa forma, buscamos compreender a participação política de estudantes de ensino médio em sua vivência escolar, de maneira a identificar possíveis implicações para o desenvolvimento de suas personalidades. Para alcançar esse objetivo, foi realizada pesquisa etnográfica crítica, em uma escola de ensino médio localizada na periferia de Brasília. Utilizamos como recursos investigativos: observação participante, participação em grupos virtuais da escola em aplicativo de troca de mensagens (Whatsapp), pesquisa documental, grupo de fala e escuta com estudantes gremistas a partir de temáticas relacionadas à vivência política no ambiente escolar, entrevistas semiestruturadas com sete estudantes representantes de turma ou membros do grêmio estudantil. As informações construídas foram analisadas em seu conteúdo, a partir da perspectiva teórica adotada. Os resultados indicam que 1) a reorganização dos espaços-tempos escolares após o Novo Ensino Médio cria dificuldades à participação estudantil; 2) a escola se apresenta como importante espaço de cultura e lazer, sendo este foco de reivindicações políticas relevantes dos estudantes; 3) o relacionamento interpessoal entre estudantes adolescentes e os adultos docentes, mediado pelas concepções sobre adolescência, tem destaque para a compreensão das possibilidades concretas de participação na escola; 4) as possibilidades de participação política, mesmo se dando de forma contraditória e incipiente, são fonte de desenvolvimento da personalidade dos estudantes adolescentes. Ressaltamos assim, a defesa de que há necessidade de maior incentivo à participação política na escola, tanto por possibilitar uma relação consciente com os conteúdos científicos trabalhados, bem como pela implicação no desenvolvimento de personalidades mais conscientes de si e na sua relação com o mundo. Essa defesa se pauta no compromisso com uma educação de qualidade e com a emancipação dos estudantes de escolas públicas.