Análise topoclimática, geomorfológica e de percepção climática em uma bacia hidrográfica em Ubatuba-SP

Abstract

A climatologia geográfica é uma ciência de síntese, uma vez que é uma combinação de processos que ocorrem na atmosfera inferior, incluindo processos antrópicos e não apenas elementos climáticos considerados isoladamente. Estudos de climatologia local em áreas rurais e/ou protegidas ainda são incipientes quando comparados às análises de climatologia urbana, e podem auxiliar os gestores de unidades de conservação no planejamento e na tomada de decisões com um maior conhecimento do ritmo climático e dos tipos de sucessão climática nessas localidades. Este trabalho, dividido em três capítulos, busca realizar uma avaliação sob uma perspectiva integrada do clima, com uma análise de topoclimas e ritmo climático, geomorfologia e seu mapeamento, e também a influência que o comportamento do tempo/clima causa em uma comunidade tradicional e como é percebido por ela. A área de estudo é a bacia hidrográfica do Rio da Fazenda, situada no município de Ubatuba (estado de São Paulo), cercada pela montanha e planície costeira da Serra do Mar, inserida em duas Unidades de Conservação (Parque Estadual da Serra do Mar e Parque Nacional da Bocaína). O referencial teórico é baseado em estudos clássicos e modernos de climatologia brasileira, utilizando diferentes abordagens, conforme descrito anteriormente (MILANESI; GALVANI, 2011; FIALHO, 2012; MONTEIRO, 1971, 1973; SANT´ANNA, 2022; SARTORI, 2000). Uma análise topoclimática foi realizada no Capítulo I, onde foram utilizadas medições climáticas em escala local, com termohigrômetros ao longo da bacia, para entender a relação entre o relevo e o comportamento climático utilizando a metodologia de análise multicritério. Por meio dessa abordagem, a área foi dividida em unidades topoclimáticas, a fim de demonstrar o efeito chave que os atributos geográficos têm em relação à estrutura climática de uma localidade, o que pode ser útil para fins de planejamento ambiental e para pesquisas ecológicas. A topografia atua como um fator determinante na diferenciação topoclimática, daí a importância do mapeamento geomorfológico realizado no Capítulo II, com um conjunto de mapas produzidos no QGIS a partir do modelo digital de elevação (DEM) que demonstram a hipsometria, inclinação e orientação das encostas da área de estudo. A partir desse banco de dados geográfico, pretende-se chegar ao mapa índice de dissecação do relevo segundo a proposta de Ross (1994) e ao fluxo de drenagem do Rio da Fazenda. A importância desse tipo de estudo é para entender a evolução das paisagens e também detectar pontos com maior grau de risco de movimentos de massa, um evento comum na região devido às altas precipitações. No terceiro capítulo, o objetivo é analisar a percepção climática dos moradores da bacia, onde habita uma comunidade quilombola dentro do parque. Como base teórica são utilizadas as ideias de Sartori (2000) sobre percepção climática e a ideia de clima relacional formulada por Sant'Anna Neto (2022), onde o clima é analisado na perspectiva quilombola, principalmente em suas dimensões culturais, simbólicas, experiências e sociais. Estudos de percepção ambiental são valiosos para compreender as relações entre indivíduos e o ambiente e uma ferramenta para a administração dos gestores, incluindo as populações nas Unidades de Conservação que podem participar do processo de tomada de decisão nessas áreas. A metodologia será uma análise qualitativa por meio de entrevistas com aplicação de questionários e uma roda de conversa entre eles. Como resultado esperado da pesquisa, busca-se entender o clima, em aspectos de diferentes dimensões, mas que se conectam entre si, indo além da dicotomia físico-humana que acontece na ciência geográfica.