Variáveis espaço-temporais da locomoção em crianças de 3 a 10 anos

Abstract

A descrição das variáveis espaço-temporais da locomoção em crianças pode facilitar a compreensão do desenvolvimento motor típico, permitindo a comparação com possíveis disfunções e contribuindo para programas de atividade física mais adequados, diagnósticos precoces e tratamentos clínicos mais eficientes. A análise das variáveis espaço-temporais visando o entendimento da aquisição e especialização da habilidade de correr em crianças ainda é limitada. Além disso, a associação dessas variáveis com outros fatores também pode ser mais bem estudada. Objetivo: este estudo transversal teve como objetivo apresentar valores de referência por idade e sexo para as variáveis espaçotemporais durante o correr em velocidade auto selecionada e rápida em crianças de 3 a 10 anos. Também foram apresentados os valores das variáveis espaço-temporais do andar em velocidade auto selecionada. Além disso, investigou-se a associação entre o índice de massa corporal (IMC) e essas variáveis e entre a velocidade do correr e a distância no salto de impulsão horizontal. Métodos: participaram do estudo 181 crianças (97 do sexo feminino). As variáveis espaço-temporais (velocidade, cadência, comprimento do passo, tempo de ciclo e duração das fases aérea e de apoio) foram coletadas por meio da plataforma GAITRite em três condições distintas: correr rápido, correr auto selecionado e andar auto selecionado. Resultados: Com o avanço da idade, observou-se um aumento da velocidade absoluta e do comprimento do passo, bem como redução da velocidade normalizada, cadência e comprimento do passo normalizado. Meninos apresentaram valores mais altos de velocidade absoluta e normalizada, cadência e comprimento do passo normalizado em comparação às meninas. Crianças com sobrepeso apresentaram velocidades mais baixas durante o correr e maior duração da fase de apoio. O aumento da velocidade do correr foi associado a maior cadência, comprimento do passo e duração da fase aérea, e a menor duração do tempo de ciclo e da fase de apoio. A distância no salto de impulsão horizontal esteve positivamente associada à velocidade do correr. Conclusões: O comportamento das variáveis espaço-temporais indicou que os padrões de movimento do correr ainda parecem estar em desenvolvimento na faixa etária de 3 a 10 anos. Além disso, as meninas e as crianças mais velhas parecem ter um desenvolvimento mais rápido da habilidade de correr. A associação com o IMC demonstrou que, mesmo em crianças não obesas, o sobrepeso foi suficiente para reduzir a velocidade e estender a fase de apoio durante o correr, enfatizando a importância da composição corporal no desenvolvimento dessa habilidade. A associação entre a velocidade do correr e a distância alcançada no salto de impulsão horizontal sugere que a aptidão física e o nível de desenvolvimento motor necessários para as habilidades de correr e saltar parecem ser semelhantes.