Envelhecimento e memória autobiográfica : uma análise sócio-histórica de pessoas idosas no Distrito Federal

Abstract

O envelhecimento populacional, fenômeno proeminente do século XXI, impõe a necessidade de investigações multidimensionais sobre suas implicações socioculturais. Esta dissertação explora as intrínsecas relações entre memória autobiográfica e o contexto sócio-histórico de pessoas idosas residentes no Distrito Federal. O objetivo central da pesquisa foi compreender como as narrativas de vida desses indivíduos se entrelaçam com as transformações sociais, culturais e urbanas, singulares da capital do Brasil. Adotando uma abordagem qualitativa e exploratória, foram realizadas entrevistas narrativas com 20 pessoas idosas com média de idade de 67,45 anos (DP = 6,32), variando entre 61 e 85 anos, todos residentes no Distrito Federal há pelo menos 20 anos. Os participantes eram provenientes de diversas Regiões Administrativas do Distrito Federal, selecionados para refletir a heterogeneidade socioeconômica e cultural do território. A análise de dados, conduzida com o software IRaMuTeQ, permitiu uma imersão profunda nos significados emergentes das narrativas. Assim, utilizou-se a classificação hierárquica descendente que permitiu identificar classes temáticas, e a análise fatorial das correspondências que possibilitou identificar quais palavras ou expressões estão relacionadas semanticamente, formando campos lexicais ou redes de significados. Essa combinação de técnicas proporcionou uma visão multifacetada dos dados, contribuindo para uma interpretação mais ampla e profunda. O corpus foi constituído de 20 textos, organizados em cinco classes, separados por 1.669 segmentos de texto, com aproveitamento de 1.575 segmentos de texto (94,37%). Os resultados evidenciam a influência de marcos históricos locais, desigualdades socioespaciais entre as Regiões Administrativas, e as trajetórias de trabalho e vida familiar na identidade e no significado do envelhecer no Distrito Federal. Ademais, revelou como a história única de Brasília – enquanto cidade planejada, polo migratório e palco de transformações aceleradas – atua como um potente modulador na construção e reconstrução da memória autobiográfica. Espera-se que esta pesquisa contribua para uma compreensão mais ampla da influência do contexto sócio-histórico na memória autobiográfica na velhice, oferecendo subsídios para o desenvolvimento de políticas públicas e intervenções mais contextualizadas e eficazes para a população idosa local, preenchendo, assim, uma lacuna nos estudos sobre envelhecimento no Brasil ao destacar as particularidades do Distrito Federal.